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A Insônia do Sabiá... (Luiz F.D.Garcia)

Atualizado: 12 de mai. de 2020

(pequena catarse na pandemia da desesperança)


Luiz Fernando D. Garcia


5 da manhã. O sabiá que mora na árvore em frente avisa que o sol já virá. Forte. Ou quase. Não mais forte que a minha insônia. Mais uma. Tentando todos os métodos para relaxar. O Papa sozinho naquela praça, andando devagar, com dificuldade, orando pelo mundo... Por todo o peso do mundo... Faço o mesmo andando até a sala, mas o peso do meu mundo me trava.

Lembro o que o sábio mestre de criatividade JP nos ensinou: é preciso relaxar e brincar com os pensamentos para promover novas sinapses. Derrubar barreiras. Novos caminhos. Que não nascem caminhos. Nem trilhas. Nascem possíveis picadas. Que podem virar trilhas. Nunca trilhos. Se relaxar.

Mas como relaxar se os ocupantes dos altos cargos não relaxam em me/ nos enviar recados no mínimo exóticos? Inapropriados. Desesperançados!

Mas como relaxar se a sua conta no banco parece com aquela questão de vestibular , da caixa d´água – quanto entra, quanto sai, quando encherá, quando esvaziará – e você tem certeza da resposta?

5:15 da manhã. Insônia mais um dia. Omeprazol. A yoga virtual. O aceno na janela pro entregador do jornal impresso. Que pegarei com luvas e álcool gel. Deveria fazer isto sempre, por causa do teor das notícias...

Hoje a noite: panelaço ou palmas? Ou o silêncio incômodo da mata antes da chuva. De quem não sabe o que vai acontecer, e simplesmente prenuncia e espera. Bom, nunca se soube, mas gostava de poder prever. No território do conhecido.

5:30 – Em dúvida entre um chá calmante ou um café energizante. O sabiá ainda canta. E, na rede social, a tia já mandou bom dia, vai passar... Na TV, muita gente na rua. Vai passar... de um pro outro! Que promovam um beijaço e fiquem aí! Viramos todos especialistas em vírus, naturais ou de laboratório. Igual ao futebol. E é mais um 7x1. E mais uma pandemia de Lives e de aproveitadores e de...

Vai passar... nesta avenida um samba popular... Saudade das ruas, do sol, de se perder e se encontrar pelos caminhos e descaminhos. Do simples ato de poder até escolher não sair. Ou ir a pé até a padaria.

Vai passar... e quase todos os grupos do zap com a sensação de que, logo, logo, alguém achará a algoquimia que irá nos redimir. E o Bruce Willis reinventado vai desviar o cometa que explodiria a Terra e todos sairão às ruas celebrando, bebendo, abraçando e beijando afetos e desafetos, porque é um novo dia, de um novo tempo, que começou.... sem máscaras.

Máscaras – de pano ou de pele? De corpo ou de alma? O Humberto Eco já previa que somos Apocalípticos ou Integrados. Faltaram os Alienados, os Cegados pelas Crenças, os Sonhadores, os Construtores... Mito. Desminto!

Amanhã vai ser outro dia. Abro a janela e o sol chegou. Aquece corpo e alma. O café energiza. E lá do fundo dos escombros das noites mal dormidas, surge um rumor, uma voz calma da solidariedade aprendida ao longo da vida, dizendo:

“Para! Você não vai resolver todos os problemas do mundo. Então comece a pensar nos problemas e oportunidades de seu mundo. Do seu entorno. Da empatia. Da alteridade. Respira e vai! Ou fica. E pensa/ repensa que o caminho se faz...

Canta. Pula. Grita. Desliga o olhar da mídia e olha o que você vê.

Comece mudando um quadro de lugar. Depois mude um pensamento de lugar. Você vai começar a gostar da nova decoração de seu cérebro. Aconchegante ou desafiador. Ou menos gélido... Não caia na auto-ajuda. Mas pense em alta ajuda! Deixe janelas abertas para ver e ou pelo menos ouvir o sabiá. E o mundo do entorno do sabiá”.

Vai passar. Vai mudar. Vai... Bom, espero que ainda tenha insônias. Mas pelo desejo de não parar de pensar e propor futuros desejáveis. Que começam no futuro do presente!

São quase 7 horas e um dia é pouco pra tudo que tenho de fazer!

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