Novo Livro de José Predebon:
Criatividade versus Inteligência Artificial
um certo conflito entre criador e criatura, no campo do trabalho
Introdução
O Sentido Amplo de Criatividade e Inteligência Artificial.
Ao começar a ler um livro, sempre senti que é bom ter uma expectativa clara. E quando seu assunto inclui uma controvérsia, opa, pode até surgir dúvida. Por isso vou me esforçar para esclarecer já o antagonismo contido na palavra versus, que usei no título.
Criatividade é uma palavra com tantas interpretações que chega a parecer escorregadia. Confesso que durante meu tempo de marqueteiro eu nem conseguia explicá-la bem. Porém ao começar a dar aulas de criatividade me deparei com a necessidade da definição.
Após várias tentativas e mudanças, passei a adotar a definição de “produto de pensamento não lógico mas relevante”. A palavra mas revelava uma pequena desaprovação do sistema ocidental, que privilegia demais a lógica.
O tempo passou, eu dando aulas e pesquisando, até chegar a uma novidade, o que chamei de “definição interior”; era o produto de uma discussão em grupo, após a qual a pessoa começava a entender o conceito de criatividade sem a formalidade de uma definição acadêmica.(*)
Mas isso agora também mudou, pessoas que leem, talvez pela perspectiva de um velho curioso que sou: hoje vejo criatividade quase fora das definições, e simplesmente como sinônimo de raciocínio inteligente e inspirado, que todos têm em algum nível. O usamos em tudo, a todo instante, conscientes ou não, para vivermos melhor. Esse, para mim, é o sentido amplo da criatividade.
Chegou a hora de explicar como vejo a Inteligência Artificial. Quando começaram a me perguntar em aulas e palestras o que eu achava da IA, fui correndo me informar. Li tudo o que encontrei, conversei com quem possuía alguma informação e até frequentei um grupo de estudos da IA, dos professores da PUC de São Paulo.
Entre os que pedi ajuda estava meu filho Marcos, engenheiro com mestrado em Sistemas pela USP, que se tornou autoridade em tecnologia (em 1999 ele coordenou o diagnóstico nacional de que o bug do milênio não existia nas redes de telecomunicações). Tornou-se a minha fonte no campo, e tanto conversamos sobre o assunto que acabamos tendo a ideia de criar o curso sobre inovação, onde lecionamos, o Ignite Posterum (**).
Acreditem que hoje consigo me sentir à vontade para falar de tecnologia, apesar de, como típico idoso, ter alguma dificuldade em usá-la – eh, eh, nasci em 1931, e ninguém volta no tempo. Aceito, recomendo mas uso pouco. Pois bem, para mim Inteligência Artificial é o estado da arte em tecnologia. É sua manifestação mais atual e marcante, e esse, digo aqui, é o seu sentido amplo.
O título, com a palavra versus, sugere que criatividade puxa para um lado e tecnologia para outro. Isso pode até acontecer, porém a dicotomia está mais na visão do assunto, que divide as pessoas com formação em humanas das que têm formação em exatas. Estas ficam mais à vontade com a tecnologia, e aquelas com a criatividade. E ultimamente o tema Inteligência Artificial tem provocado muitas discussões, que também são objeto deste livro.
Penso que assim explico o título do livro, e contribuo para que a sua leitura seja mais tranquila. Se me fosse exigido pela editora um título mais simples, de acordo com esta minha explicação ele poderia ser “Inteligência versus Tecnologia”.
Após esse esclarecimento, concluo agora, especulando, que talvez a minha visão do tema seja devida a estarmos em tempo de transição. Mas... transição não será uma condição permanente, daqui em diante?
Opa, isso também é especulação – deletemos para ir em frente, OK? □□□
(*) A dinâmica em classe compreendia primeiro um levantamento coletivo de palavras consideradas “vizinhas” da criatividade; feito um painel, discutia-se a coerência que se notava no conjunto, e que levava os participantes, dali para diante, a sentirem o conceito com uma nova e mais clara visão. Essa nova posição é a que chamo de “definição interior”;
(**) Ignite Posterum, curso livre, informações em www.predebon.org